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Blog do Roberto Avallone

A morte do último palestrino

Roberto Avallone

21/06/2014 16h52

Imagem: Divulgação

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Oberdan Cattani era o último jogador vivo que tivera o privilégio de jogar pelo Palestra e, depois, obrigado pela Segunda Grande Guerra Mundial, continuar atuando já pelo Palmeiras, a partir do episódio conhecido como "Arrancada Heroica", em setembro de 1942.

Era o ídolo de meu pai, que o considerava o melhor goleiro de todos os tempos. Só o vi jogar no finalzinho da carreira, um pouquinho pelo Palmeiras e mais pelo Juventus, onde, já aos 34 anos, defendeu um pênalti batido pelo corintiano Claudio Cristóvão Pinho. Façanha quase impossível de ser realizada.

Dono de porte atlético invejável, Oberdan me parecia ser um gigante de dois metros de altura, quando, na verdade- e isso  constatei quando o conheci, tempos depois- tinha apenas 1 metro e 76, o que pouco importava diante de sua incomum elasticidade e perícia nas bolas altas. Meu pai me dizia: "Ele agarra a bola com uma só mão". Só não tinha me explicado como conseguia, até que eu visse a lenda de perto, verificando que suas mãos eram enormes, capazes de conter qualquer bola mesmo aquela tipo capotão.

Li que foi campeão paulista em 1940, 42, 44, 47 e 1950, além de participar das "Cinco Coroas"– cinco títulos seguidos entre 1950 e 1951, estando a Copa Rio- em que começou como titular, deixando, no meio da competição, o lugar para Fábio- entre essas coroas. Oberdan foi da Seleção Paulista, da Seleção Brasileira e meu pai jamais se conformou em vê-lo fora do time na Copa do Mundo de 50, achando, naturalmente, que com Oberdan o Uruguai não nos teria vencido.

Oberdan Cattani nos deixou na noite desta sexta-feira, aos 95 anos. Ganhará um busto no novo estádio do Palmeiras. E se por acaso, em outro plano, encontrar-se com meu pai, Waldemar, ouvirá dele o agradecimento que todo palestrino/ palmeirense gostaria de fazer: "Obrigado por tudo, melhor goleiro de todos os tempos".

Quem sabe, lá em cima ou seja lá onde for esse outro plano, Oberdan ainda possa bater uma bolinha, dando um jeito de agarrá-la com uma só mão. Até para voltar a ser, por segundos, aquele personagem idolatrado por meu pai, como numa prova de que a paixão não termina em uma só vida.

Sobre o Autor

Sou Roberto Avallone, jornalista esportivo há mais de 45 anos. Primeiro o jornal, depois o rádio; mais tarde a TV. E finalmente, a tal da internet. Troquei a velha Remington - de som marcante e inspirador - pelo mouse e teclado. Seja qual for o meio, seja qual for o ano corrente, lá estarei eu falando sobre minha grande paixão: o futebol. Tem gente que gosta do que faz. Eu faço o que gosto. A diferença parece sutil - mas não é, e faz toda a diferença. Palpitem, opinem, contestem, concordem e discordem neste blog democrático. Não prometo atualizações minuto-a-minuto, nem respostas a todas as perguntas, mas tenham a certeza de que lerei todas elas e darei o meu melhor em matéria de informações, bastidores e memórias. Sejam bem vindos, caros amigos futeblogueiros.

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