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Blog do Roberto Avallone

O que faria o velho Chico, meu avô português

Roberto Avallone

14/12/2013 05h21

Ah, o velho Chico, meu avô do lado materno, não suportaria essa situação. Seu Francisco Calló, lusitano da mais pura cepa, foi-se em 1965. Já não contava as façanhas de seus clubes prediletos- o Benfica, a Portuguesa e o Vasco da Gama- com tanta fluência, pois já tinha chegado aos 85 nos, mas deles ainda se orgulhava com fervor.

Quase sempre amparado pelo filho Manoel Armando, conselheiro da Lusa, deliciava-se com as narrativas das façanhas do esquadrão: Muca, Nena e Noronha; Djalma Santos, Brandãozinho e Ceci; Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão, o time campeão do Rio- São Paulo de 1952 e base das seleções paulista e brasileira. Esse time ainda iria dominar o mundo, pensava.

Quem já praticamente dominava o Rio e o Brasil era o Vasco da Gama, o braço forte e lusitano carioca. Era quase sempre campeão, foi a base da Seleção Brasileira vice-campeã do Mundo em 1950 e tinha o mais carismático dos goleadores tupiniquins, Ademir de Menezes, o Queixada. Mais tarde, em 1958, campeão do Rio São Paulo com Miguel, Paulinho e Belini; Écio, Orlando e Coronel; Sabará. Almir, Vavá, Rubens e Pinga.

Meu avô se orgulhava do Vasco.

E tinha também muito orgulho do Benfica, tanto que contrariando o hábito de ficar em casa aos domingos, pediu ao meu pai, palmeirense, que o levasse ao Pacaembu. E assim foi feito. Meu avô voltou para casa sorrindo, pois aquele goleiro da camisa amarela, Costa Pereira, pegava tudo; e era duro suportar o ataque formado por Arsênio, Érico, Águas, Coluna e Cavém. O Benfica venceu o Palmeiras por 2 a 1.

Nem sei como reagiria o meu avô à situação de seus dois clubes daqui: a Portuguesa correndo o risco de ser rebaixada por ter escalado por minutos um jogador em condição irregular (terá sido dela mesmo a culpa? Ou houve descuido fatal?), embora tivesse se comportado bem dentro de campo. E o Vasco então, antes todo poderoso e altivo, foi mal dentro de campo- com um time fraquíssimo- e também fora de campo, com vários de seus torcedores participando de selvagens cenas de violência.

Creio que tenho a resposta para pelo menos imaginar qual teria sido a reação do meu avô. Sabe como? Ele riscaria o futebol de sua vida, ficaria mais tempo com os netos para contar suas histórias de Portugal, frequentaria mais a varanda para saborear com calma os bolinhos que minha avó, Olímpia, costumava preparar para agradar o marido.

Talvez lhe fizesse bem navegar pelas águas do Tejo. Bem longe desta confusão.

Sobre o Autor

Sou Roberto Avallone, jornalista esportivo há mais de 45 anos. Primeiro o jornal, depois o rádio; mais tarde a TV. E finalmente, a tal da internet. Troquei a velha Remington - de som marcante e inspirador - pelo mouse e teclado. Seja qual for o meio, seja qual for o ano corrente, lá estarei eu falando sobre minha grande paixão: o futebol. Tem gente que gosta do que faz. Eu faço o que gosto. A diferença parece sutil - mas não é, e faz toda a diferença. Palpitem, opinem, contestem, concordem e discordem neste blog democrático. Não prometo atualizações minuto-a-minuto, nem respostas a todas as perguntas, mas tenham a certeza de que lerei todas elas e darei o meu melhor em matéria de informações, bastidores e memórias. Sejam bem vindos, caros amigos futeblogueiros.

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