A maior façanha do futebol de Portugal. E o legado da conquista
Foi um feito histórico, inesquecível, mas que não deixa de ser surpreendente; a Seleção de Portugal- sem Cristiano Ronaldo, que saiu de campo, machucado e chorando, aos 24 minutos do primeiro tempo- ousou derrotar a favorita e anfitriã França, que dias antes eliminara a temida Alemanha, tornando-se a campeã da Eurocopa 2016.
São três aspectos que devem ser levados em consideração:
1- Quanto ao jogo em si, a França com seus jogadores renomados- só Pogba está cotado em 400 milhões de reais- começou melhor e assim continuou por bom tempo, antes e depois da contusão de Cristiano Ronaldo. Mas enquanto os franceses desperdiçavam chances e alguns de seus jogadores não rendiam o esperado- Griezmann, Giroud, Pogba, etc- o goleiro português, Rui Patricio fazia defesas espetaculares, o que deixava à flor da pele os nervos dos anfiriões favoritos.
Sempre valente, no entanto, Portugal encorajou-se também a atacar, suprindo com raça e jogo coletivo a ausência de seu craque maior, Cristiano Ronaldo. Mais do que isso, além da coagem já existente, ganhou autoconfiança, ousadia. E foi essa uma das razões que fez Éder chutar de fora da área, um chute rasteiro, com certo efeito, entrando no canto direito do goleiro francês, Lloris. Isso, já no segundo tempo da prorrogação, o que significava praticamente o fim do sonho francês e a glória da seleção portuguesa.
2- Quanto ao significado da conquista portuguesa, creio que ele vai além da glória e do rótulo de "maior feito do futebol português de todos os tempos", o que realmente é, mas simbolizando também o resgate de causa perdida e que já parecia ganha: como, por exemplo, a perda da Eurocopa de 2004, em casa, para a modestíssima seleção da Grécia. Além disso, o que guardo na memória é o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando Portugal tinha uma grande seleção e um ataque inesquecível- José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Sinões. Nesta Copa, Portugal ganhou do Brasil (3 a 1) e teve em Euzébio o artilheiro da competição.
Em 2006, sob o comando de Felipão- que também foi o comandante de Portugal na Eurocopa de 2004- teve lugar honroso, o quarto lugar, na Copa da Alemanha. Mas essa conquista de agora foi, principalmente, o resgate da Eurocopa perdida diante da Grécia e também do "bater na trave" nessas competições em que poderia ter ido mais longe.
Façanha histórica!
3- Quanto ao legado desse feito memorável fica, no entanto, uma lição para o futebol moderno: com a escassez de jogadores fora-de- série (quantos existem no mundo? Messi, Cristiano Ronaldo…), mesmo com a existência de bons jogadores, muito bons ou até ótimos (Neymar, o próprio Griezmann, etc), ah, sem ter em campo Monstros Sagrados, o que prevalece é o jogo coletivo, o que vale é a raça, o que importa é a estrutura tática- e também a sorte de estarem em bom dia os melhores do time.
Até prova em contrário, esses ingredientes provocam resultados inesperados, tornando o futebol cada vez menos lógico, cada vez mais improvável. Com todos os seus méritos, Portugal- que só venceu uma única partida no tempo regulamentar e duas na prorrogação- prova isso; assim como, em amarga lembrança, coube ao modestissimo futebol da Grécia derrotar o favorito Portugal há 12 anos.
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