Palmeiras, cenas de uma paixão Centenária
Fui apresentado ao Palmeiras por um grito. Um grito de gol!
Era o grito de minha tia Dora, que festejava o empate do Palmeiras contra o São Paulo, marcado por Aquiles, no jogo que valeria o título de Campeão do Ano Santo, em 1950. E eu menino que acabava de largar as fraldas, tentei entender a alegria daquele grito, o que foi fácil perceber pelo abraço apertado de meu pai em minha tia, seguido de cumprimentos emocionados de todos da família.
O Palmeiras era o Campeão!
Fácil, pois, compreender o amor por aquele time da camisa verde, da história bonita, da superação da discriminação contra o imigrante, que ainda existia cinco anos após o término da Segunda Grande Guerra Mundial. Era uma história de valentia.
Mas, na verdade, fui entender mesmo o que significava Palmeiras quando minha família mudou da Barra Funda para a Casa Verde. Não pela troca dos bairros, mas sim por ter encontrado na Casa Verde, a fantástica figura de um tio-avô: Armando Meliani, marceneiro, um autodidata que amava os livros, o cinema e apaixonado pelo Palestra-que- virou Palmeiras. Um de seus orgulhos era ter jogado damas no Parque Antárctica com Romeu Pellicciari, o craque que marcará 4 gols na goleada de 8 a 0 sobre o Corinthians em 1933.
Ah, quantas histórias palestinas tinha o Tio Armando. Solteirão, desiludido do amor por ter gostado em vão de uma prima-o que não se admitia na época- transferira toda a sua paixão para o clube que amava. E me contava: "Robertinho, tinha uma época que a gente cantava assim: é com o pé, é com a mão, o Palestra é campeão"- referindo-se aos títulos conquistados no futebol e no basquete, as façanhas do advogado Dante Del Manto, o mais jovem presidente do Palestra, tricampeão paulista em 1932, 33 e 34, lembranças que enchiam seus olhos de lágrimas e o corpo todo de muito orgulho. Um dia, Tio Armando, percebendo que eu me interessava por seus assuntos e que começava a me afeiçoar por eles, resolveu dar-me um presente: colecionador, deu-me todos os recortes de jornal que guardava com muito carinho sobre as conquistas do Palmeiras.
Estavam em meu poder, então, as manchetes e primeiras páginas da Gazeta Esportiva e do Esporte- os mais procurados jornais da época pelos esportistas- contando a saga das Cinco Coroas, quando o Palmeiras obteve cinco títulos seguidos, culminando com a Copa- Rio, com os jornais considerando o feito como "Campeão do Mundo", com os jogadores levando dois dias para chegarem do Maracanã até a sede do clube, de tanto pararem nas cidades do Interior para as devidas homenagens.
Ah, eu estava feliz com aqueles recortes. E passei a seguir o Palmeiras em todas as suas façanhas- do campeonato paulista ao Rio- São Paulo (em 1965, por exemplo, quando foi formada a primeira Academia), ao Robertão, ao Campeonato Brasileiro, à Libertadores de 1999. E também em suas derrotas, quase todas dignas, com exceção aos dois rebaixamentos acontecidos neste século. Meu Deus!
Tenho esperanças de mais cedo ou mais tarde, que o Palmeiras voltará a ser o Palmeiras que conheci. Só não vou recuperar os recortes que Tio Armando me deu, pois uma empregada lá de casa, sem conhecer o valor sentimental daqueles jornais, os vendeu no açougue. E por quilo.
Mas nunca mais ouvi falar dessa mulher. E as façanhas, as guardo todas na memória. E no coração.
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